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Por trás da Marcha: histórias de ginetes que se encontram em Jaguarão

07 DE JULHO DE 2023 - ATUALIZADA EM 07 DE JULHO DE 2023 | Redator: Redação ABCCC

Eles são de todos os lugares. Das mais variadas profissões. São pai e filho, irmãos, cônjuges. São “marcheiros” experientes ou iniciantes, trabalham com isso ou fazem disso o seu lazer. São jovens, adultos. Homens e mulheres. A 21ª Marcha Anual de Resistência uniu uma imensa diversidade de pessoas com um interesse em comum: o universo em torno do Cavalo Crioulo. O objetivo principal de muitos, por vezes, nem é a competição, mas tudo que o Cavalo Crioulo oferece à sua volta: os novos amigos, as velhas amizades, a troca de experiência entre gerações e também entre nações. 

 

Os 53 conjuntos que largaram no dia 24 de junho reúnem além de ginete e cavalo, muitas histórias.

 

Do Acre para Jaguarão

Dentre as bandeiras que povoam o galpão de encilha da Marcha de Resistência, uma de um estado brasileiro chama a atenção. Verde e amarela, com uma estrela, a bandeira do Acre, estado da região norte do Brasil, traz consigo a história de um acreano, da capital, Rio Branco, que conheceu as provas de resistência e participa, ao lado da esposa, de sua primeira Marcha de Resistência do Cavalo Crioulo. É o músico Marco Antônio Brasil Cruz de Lima, que associa a vivência na estrada com vários pontos de sua vida cotidiana, sendo uma “experiência bárbara participar a primeira vez da Marcha, apesar de ser música, essa influência com o meio rural me envolveu muito e hoje eu amo cavalo, amo a estrada”. 

 

Já sua esposa, Helenice Gonzales, relembra como o casal descobriu a Marcha e como foi a sua trajetória até decidirem participar do desafio que é a Marcha Anual de Resistência do Cavalo Crioulo. “Minha família cria Cavalos Crioulos há muitos anos, usa cavalos para passeio, começou a participar de Enduros, viemos conhecer a Marchita, adoramos a Marchita, e nos desafiamos esse ano a participar da Marcha. Está sendo um desafio, mas graças a colaboração de todos os participantes e comissão, a gente tá tendo um apoio muito grande para ir até o final, a gente está muito feliz”, lembra a ginete que, junto com o marido, chegou nas etapas livres dessa edição.

 

Pai e filho correndo juntos

As histórias de filhos que seguem os passos dos pais é longa e dentro da raça Crioula isso não é diferente. De Bagé, município berço da ABCCC, Rogério Rosa e Ramiro Rosa chegam em Jaguarão/RS para encararem esse desafio juntos, pela primeira vez. Rogério lembra que já correu Marchas, mas depois do convite do filho, esse ano se tornou realidade.  “Estamos fazendo uma experiência nova, o Ramiro era corredor de Marchita quando guri e correu uma Marchita profissional. Antes da Pandemia o Ramiro me convidou para um dia corrermos uma Marcha profissional juntos, mas corri dois anos sozinho e agora estamos realizando esse sonho de correr pai e filho, mas já completamos 600km juntos, com muita cautela”, revela o pai.

 

Já seu filho, Ramiro Rosa, relata como está sendo a sua experiência na primeira Marcha que corre, com apenas 14 anos e correndo com o seu pai. “Estou achando muito interessante, as que eu corria antes eram mais curtas, querendo ou não era mais tranquilo de correr, essa tem que ter um cuidado muito maior com a égua e é um sonho correr com meu pai, sonho que está se realizando”, finaliza o jovem ginete.

 

Do ciclismo para o Cavalo Crioulo

Médico Veterinário de Triunfo/RS, Fábio Haussen Pereira Jr. já percorreu longas distâncias de bicicleta, conheceu a Marcha de Resistência em Quaraí, no ano passado, quando se “contaminou” e “trocou” (ao menos temporariamente) a bicicleta pelo Cavalo Crioulo. Já correndo alguns Enduros, Fábio revela sua preferência por cavalos de resistência. “Sempre tive contato com o cavalo, fiz Cavalgada do Mar, sempre gostei do Cavalo Crioulo de Resistência, corri Enduro em Cachoeira e Pelotas, comprei um cavalo que corri em Dom Pedrito, consegui um cavalo e me atraquei aqui. Estou achando maravilhoso, uma experiência muito grande, um aprendizado, desde o começo o pessoal me incentivando, corrigindo alguns problemas que eu tava tendo e foram me empurrando, me trazendo”, explica o Veterinário.

 

Empolgado com a participação e com o ambiente que encontrou nesta Marcha, Fábio  brinca com seus companheiros: “Já estou com o ‘sangue nos olhos e adaga nos dentes’ para a próxima Marcha!” Em seu Facebook (você pode conferir clicando aqui), Fábio faz um diário sobre a sua participação na Marcha, mostrando para mais pessoas como é a vivência dentro da modalidade.

 

Irmãos e outras modalidades juntos na Marcha

Naturais da Jaguarão/RS, onde se realiza essa Marcha e local tradicional quando o assunto são provas de resistência, Tomaz e Rodrigo Gonçalves foram criados no meio de Marchas de Resistência. Porém, o destino quis que ambos trilhassem modalidades diferentes dentro do Cavalo Crioulo: Tomaz no Freio de Ouro e Rodrigo na Marcha, e agora se encontram novamente, em 2023, para correrem juntos mais uma Marcha de Resistência. Numa época de agenda cheia por conta das Classificatórias ao Freio de Ouro, Tomaz conseguiu um espaço na agenda para encarar esse desafio com o irmão.

 

“Desde pequeno a gente acompanha nas caminhonetes, com o tio Luiz Carlos de Albuquerque, que foi um grande incentivador nosso no início, logo depois meu irmão começou a competir e se apaixonou pela modalidade, comecei a acompanhar mais, acabei competindo junto, mas por motivos de trabalho acabei focando no Freio de Ouro e na Doma. Nesse ano consegui agendar o calendário, tive o convite do Rodrigo e graças a Deus chegamos nas etapas livres e desfrutando dessa prova que tanto enriquece a raça”, relembra Tomaz.

 

Trilhando o caminho das provas de resistência, Rodrigo lembra da sua história dentro das Marchas de Resistência, além da oportunidade de estar correndo ao lado do irmão depois de tanto tempo. “Desde muito novo a gente tá envolvido, e eu desde muito cedo comecei a correr e me apaixonei pela modalidade e eu segui na modalidade, corro desde o começo dos anos 2000, tivemos a oportunidade há um tempo atrás de correr junto e agora mais uma vez depois de tanto tempo, ter a oportunidade de correr com meu irmão, que tem a agenda cheia, numa época complicada, mas graças a Deus ele conseguiu”, finaliza Rodrigo.

 

Mais ginetes de outras modalidades na Marcha

Assim como Tomaz, Carlos Loureiro de Souza é um nome conhecido quando falamos em outras modalidades do Cavalo Crioulo, como a Paleteada (inclusive venceu recentemente a Paleteada Brasileira FICCC 2023, assim como ocupou o segundo lugar da mesma modalidade, relembre clicando aqui), sendo também atual membro do Conselho Deliberativo Técnico da Associação. Correndo mais uma Marcha, depois de anos, Caco (como é conhecido), volta a correr uma Marcha com o afixo GAP São Pedro, de Uruguaiana/RS, marca conhecida em exposições morfológicas e freios de ouro, além de outras modalidades da raça.

 

“É uma satisfação correr mais uma Marcha, já tinha participado uns anos atrás, meu pai foi um grande incentivador e hoje em dia na GAP temos uma equipe dedicada as Marchas, o Felipe Vaz, Walter Bonetti, com grande apoio de todos, viemos com quatro cavalos e os quatro chegaram nas livres”, finaliza o ginete.

 

Para o além mar: estrangeiros representam mais de 10% de ginetes da Marcha

Ao todo, além dos brasileiros, outros cinco participantes vieram de países como Austrália, Estados Unidos, Guatemala e Uruguai somente para participar do desafio de 750 quilômetros, que é uma dos pilares de seleção da raça Crioula, somando mais essa experiência aos seus currículos de presença em provas equestres pelo mundo. 

 

Duas destas participantes que atravessaram o oceano para estar na prova já participaram daquela que é considerada a corrida de cavalos mais longa e desafiadora do mundo, o Mongol Derby, uma jornada que percorre mil quilômetros em dez dias na Mongólia.  Samantha Jones, detém o feito de ter se tornado a primeira australiana - e a segunda mulher - a vencer o desafio em território asiático, conquistado no ano de 2014. Também vinda da Austrália, Helen Davey é mais uma amazona que carrega experiências em provas de resistência nos últimos anos e que também já enfrentou o desafio do Derby na Mongólia, mais recentemente em agosto de 2022, quando celebrou a chegada na 11ª colocação. Ambas são residentes da cidade de Perth, capital do estado da Austrália Ocidental. 

 

Além das australianas, Damyan Serovic chega direto da Guatemala, seu país natal, onde acumula participações e premiações nas competições nacionais de Enduro Equestre; também James Altman, vindo do estado da Virgínia nos Estados Unidos, que vive de atividades ligados ao cavalo e já participou de corridas desafiadoras, como a Race The Wild Coast na África do Sul; e o uruguaio Cézar Gutierrez Joaquim completam o time de estrangeiros. Todos chegaram nas etapas livres desta Marcha de Resistência do Cavalo Crioulo.