Logo -
sombra

Cabanha Gravatá: meio século de tradição e pioneirismo

16 DE JUNHO DE 2017 | Redator: Douglas Saraiva/ABCCC

Muito antes da delimitação da chamada sexta região, definida pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos como a área que abrange a capital do Rio Grande do Sul e toda a região metropolitana de Porto Alegre até os limites da Serra e do Camaquã, um criatório da localidade já trabalhava a seleção da raça e, nos anos seguintes, foi um dos principais propulsores da raça entre os novos selecionadores do entorno. Há 50 anos, a cabanha Gravatá, de Gravataí/RS registrava o seu RP 01 e entraria para a história como a pioneira da região e uma das mais antigas da raça.


 


Nascida para atender à demanda do trabalho no campo, a criação de João Carlos Fleck seleciona animais puros desde o princípio, com o foco no melhoramento funcional. Afinal, eram animais de serviço, mas precisavam ser bons de montaria. Esse segue sendo o principio norteador até hoje, com a comprovação em pista da correção do trabalho feito dentro da estância.


 


O ano de 1967, que marca o início das atividades da Gravatá, é também o ano de nascimento de Francisco “Chico” Fleck, filho de João Carlos, atual administrador do criatório. Assim como o pai, que intercalava as funções como empresário e a agropecuarista, Chico lembra com carinho do período em que se dividia entre os estudos e o apoio ao pai no serviço do campo. “As minhas férias escolares eram no lombo do cavalo, no dia a dia do trabalho de campo”, diz.


 


Naquela época, João Carlos e a esposa Vera Beatriz Fleck, que sempre o acompanhava, eram pessoas muito presentes nos eventos da raça e sempre queridos no meio crioulista. No início, porém, o afixo utilizado era o Az de Ouros – que há 15 anos registra os animais gerados no criatório de Eduardo Fleck, irmão de Chico, após a divisão dos animais da cabanha entre os irmãos.


 


Desde esse períoro, além da paixão pelo cavalo, lições passadas pelo pai servem como exemplos de conduta e ainda hoje são tidas como as bases do trabalho desenvolvido na cabanha. “Creio que as principais delas sejam a seriedade no agir, a retidão nas ações. Meu pai era um cara muito correto, muito reto e muito humilde. E a persistência para formar a nossa própria genética, o que continuei fazendo”, conta o criador.


 


E o trabalho não demorou muito a render frutos. Os resultados iniciais vieram já na década de 80, com as primeiras participações no Freio de Ouro. Alguns animais como Flexa do Gravatá e Bala do Gravatá são lembrados desde então pela performance nas pistas, e por transformarem o próprio desempenho em balizadores da sequência da seleção continuada, hoje consolidada no criatório.


 


Porém, toda trajetória de sucesso precisa superar alguns obstáculos e dificuldades. Na Gravatá, lembra Chico, o grande desafio foi o momento da escolha dos novos reprodutores. “É o momento crucial de qualquer cabanha. E é muito difícil acertar no cavalo. Se você escolhe o reprodutor errado, só vai perceber depois de uma década”, avalia Chico. E foi com esse cuidado, que o planejamento chegou aos três cavalos que formaram e tipificaram a manada da cabanha: San Baldomero Puestero, BT Lucero e Água de Los Campos Y Mackena Criterioso.


 


Além dos garanhões, Chico salienta a importância de formar boas mães, e vê nesse trabalho uma linha lógica e sólida. Nos anos 80, a aquisição de Neve do Itapororó (hoje, Registro de Mérito) faria a cabanha abrir os olhos para isso. Mais tarde, na década de 90, a chegada de Puestero, importado por Luiz Carlos Albuquerque, deu outra dinêmica à criação e fez dele o pai das mais importantes mães da cabanha. Junto do reprodutor, as contribuições de Lucero e, mais recentemente, de Criterioso, geraram as atuais 50 éguas na cria – “fábricas” de uma produção que abastece o mercado com qualidade, a cada temporada.


 


“Essa persistência para formar a nossa própria genética foi o mais importante. Hoje temos uma linhagem própria, um plantel de éguas que não vejo em nenhum lugar. Isso levou décadas para se formar. Formamos a nossa própria genética, com reprodutores próprios. E com resultado. Com animais premiados na Expointer, no Freio de Ouro, é uma genética que pode servir de opção para os criadores, em cruzamentos com sangues já consagrados”, reforça o selecionador.


 


Compartilhando experiências


Em paralelo ao trabalho como selecionador na cabanha, Chico Fleck também fez carreira como jurado da raça. Na opinião do criador, a experiência como jurado foi fundamental na sua evolução como selecionador, principalmente pelo fato de possibilitar a ele acompanhar o melhoramento da raça de um ponto de vista mais amplo e, além disso, poder levar esse grau de exigência para dentro da sua cabanha.


 


E a sua “militância” na raça não se limitou às pistas, Envolvido e interessado em fomentar cada vez mais a criação da raça Crioula, Fleck também atuou durante oito anos como membro do Conselho Deliberativo Técnico da ABCCC, sendo por dois anos presidente do CDT. “Meu pai também havia já participado como dirigente da ABCCC e foi ainda um dos sócio fundadores do Núcleo da 6ª Região”, destaca.


 


Referência para os novos criadores, o proprietário da mais antiga cabanha da 6ª Região em atividade, analisa que essa contribuição – assim como de outros selecionadores contemporâneos a esse trabalho – possibilitou à raça Crioula alcançar um patamar próximo da perfeição. E, com a propriedade que os 50 anos de experiência lhe conferem, caracteriza o atual momento:


 


“O estágio que se chegou hoje é quase de excelência. O direcionamento que ABCCC e seus técnicos tem dado é muito bom e, graças a ferramentas como o Freio de Ouro, temos animais lindíssimos, com morfologia muito boa e ao mesmo tempo funcionais. Estamos no momento de colher os frutos do trabalho das últimas décadas. Daqui para a frente, o caminho a seguir é o da expansão”, finaliza Chico.


 


Dividindo qualidade


O resultado de todo esse trabalho de meio século de seleção da raça Crioula está a disposição dos interessados no leilão virtual de 50 anos da Cabanha Gravatá, que acontece no sábado, dia 17 de junho, as 21h, e será transmitido ao vivo pelo Canal Rural diretamente do Núcleo da 6ª Região, no parque de exposições Assis Brasil em Esteio/RS. O evento contará com Fábio Crespo na batida do martelo, em lotes apresentados pela Parceria Leilões.